Ela entrou no quarto, deitou na cama e olhou para o teto. O teto é uma folha em branco para os pensamentos. Por que estava tão cansada? Ela começou a lembrar do seu dia e logo concluiu que o cansaço não era físico. Estava na hora de parar, livrar-se da fadiga do peito, da mente, da alma...
Logo veio aquela vontade enorme de chorar. Mas até essa vontade está cansada e fica presa na garganta dela. Não há tempo para choros. O mundo não para, as pessoas não sabem mais esperar. Não há tempo para lamentar. O marido já vai chegar, as crianças logo estarão com fome e a empregada precisa do dinheiro da passagem.
Ela não consegue se mexer. O teto parece crescer diante de seus olhos... São muitos pensamentos que querem brotar. Pensamento não sabe o que é tempo e nem pergunta se pode ou não chegar. Os pensamentos foram vindo, aos poucos, tomando conta de tudo e, de repente, cada pedacinho do teto estava preenchido. E lá estão os pensamentos dela: dançando, rodopiando, sussurrando múltiplos sentidos.
