quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Eu recebi essa carta do Bartolomeu!!!! E ofereço-a a todos!

Tatiana,


Hoje, me vi pensando como seria viver em um país de leitores literários. Pode ser apenas um sonho, mas estaríamos em um lugar em que a tolerância seria melhor exercida. Praticar a tolerância é abrigar, com respeito, as divergências, atitude só viável quando estamos em liberdade. Desconfio que, com tolerância, conviver com as diferenças torna-se em encantamento. A escrita literária se configura quando o escritor rompe com o cotidiano da linguagem e deixa vir à tona toda sua diferença – e sem preconceitos. São antigas as questões que nos afligem: é o medo da morte, do abandono, da perda, do desencontro, da solidão, desejo de amar e ser amado. E, nas pausas estabelecidas entre essas nossas faltas, carregamos grande vocação para a felicidade. O texto literário não nasce desacompanhado destes incômodos que suportamos vida afora. Mas temos o desejo de tratá-los com a elegância que a dignidade da consciência nos confere.

A leitura literária, a mim me parece, promove em nós um desejo delicado de ver democratizada a razão. Passamos a escutar e compreender que o singular de cada um – homens e mulheres – é que determina sua forma de relação. Todo sujeito guarda bem dentro de si um outro mundo possível. Pela leitura literária esse anseio ganha corpo. É com esse universo secreto que a palavra literária quer travar a sua conversa. O texto literário nos chega sempre vestido de novas vestes para inaugurar este diálogo, e, ainda que sobre truncadas escolhas, também com muitas aberturas para diversas reflexões. E tudo a literatura realiza, de maneira intransferível, e segundo a experiência pessoal de cada leitor. Isto se faz claro quando diante de um texto nos confidenciamos: "ele falou antes de mim", ou "ele adivinhou o que eu queria dizer".

Tatiana, o texto literário não ignora a metáfora. Reconhece sua força e possibilidade de acolher as diferenças. As metáforas tanto velam o que o autor tem a dizer como revelam os leitores diante de si mesmo. Duas faces tem, pois, a palavra literária e são elas que permitem ao leitor uma escolha. No texto literário autor e leitor se somam e uma terceira obra, que jamais será editada, se manifesta. A literatura, por dar a voz ao leitor, concorre para a sua autonomia. Outorga-lhe o direito de escolher o seu próprio destino. Por ser assim, Tatiana, a leitura literária cria uma relação de delicadeza entre homens e mulheres.

Uma sociedade delicada luta pela igualdade dos direitos, repudia as injustiças, despreza os privilégios, rejeita a corrupção, confirma a liberdade como um direito que nascemos com ele. Para tanto, a literatura propõe novos discernimentos, opções mais críticas, alternativas criativas e confia no nosso poder de reinvenção. Pela leitura conferimos que a criatividade é inerente a todos nós. Pela leitura literária nos descobrimos capazes também de sonhar com outras realidades. Daí, compreender, com lucidez, que a metáfora, tão recorrente nos textos literários, é também uma figura política.

Quando pensamos, Tatiana, em um Brasil Literário é por reconhecer o poder da literatura e sua função sensibilizadora e alteradora. Mas é preciso tomar cuidados. Numa sociedade consumista e sedutora, muitos são leitores para consumo externo. Lêem para garantir o poder, fazem da leitura um objeto de sedução. É preciso pensar o Brasil Literário com aquele leitor capaz de abrir-se para que a palavra literária se torne encarnada e que passe primeiro pelo consumo interno para, só depois, tornar-se ação.

Tatiana, o Brasil Literário pode, em princípio, parecer uma utopia, mas por que não buscar realizá-la?

Com meu abraço, sempre, Bartolomeu

No dia do aniversário de um ano da Biblioteca Nacional

Foi um evento tímido. Cheguei, achando que não contaria minhas histórias... Não vi ninguém... De repente, um grupo de crianças do Novo Gama chega. Eles estavam com pressa, muita pressa. Não tinham ido para a comemoração. Nem sabiam do aniversário da Biblioteca. Foram levados por um grupo de senhoras da comunidade para passear. Primeira vez na capital federal! Ainda não conheciam nada aqui. É possível imaginar isso? Crianças que moram há no máximo 100 km daqui! Esse é o nosso Brasil. País de diversidade, de realidades diferentes, de desigualdades e de esperança!

E foi aí que contem a minha história. Tive que apressar. O sapo tagarela teve que conter a sua tagarelice. Ficou com a boca costurada para que eu pudesse narrar os acontecimentos. E foi MUITO divertido. Eu adorei. Tenho que registrar essa experiência aqui. Uma manhã de sábado diferente, divertida e emocionante! Sinto-me feliz por ter feito parte da vida dessas crianças, ainda mais nesse dia que vai ficar na memória delas: o dia da visita a capital do nosso país...

E assim conto uma nova história. Uma história real. Uma história de comemoração. E a Biblioteca, no centro da capital, foi o local escolhido. Quem ainda não conhece esse espaço... dê uma passadinha lá! Ela é nova, ainda bebê... mal começou a andar... mas é um espaço de encanto, magia e livros! E onde tem livros, tem alegria!